GP do Azerbaidjão: O direito ao f#d@-se

Oitava corrida e mais uma vez eu retorno para falar sobre o acompanhar F1 não pode ser levado tudo à ferro e fogo, embora seja a premissa primordial de hoje, inclusive para outros assuntos: relacionamentos, direitos humanos, política, e etc. 
Saltam aos nossos olhos o critério da emoção pautada como argumento justificatório de uma verdade que só pode ser a de um lado da história. Seriam vastos os exemplos de quando a pessoa mostra uma postura sobre algo e que não tenha uma singela ponta de emoção, contradição ou mesmo, apenas opinião rasa, disfarçada por não entender o outro lado da mesma moeda. Digo singela emoção, para ser boazinha. Não somos verdadeiros Spocks - "It's only logical" - e não conseguimos ser, nem forçando a barra.

Esporte é entretenimento, e entretenimento motiva um grupo de pessoas pelo lado do gosto: gostam e acompanham, sentam para discutir, escrevem sobre na internet... A F1 é isso ainda. De ontem para hoje, qualquer portal ou jornal usou os seguintes termos para o GP do Azerbaidjão: a mais emocionante, a mais empolgante, com muitas disputas e reviravoltas. Agora a pouco, no jornal Bom Dia da Globo, o comentário final foi: "Emocionante, tomara que siga assim".

A Liberty quer que as pessoas pensem desta forma. Quer retomar a legião de fãs da categoria que, por previsibilidade dos resultados, aos poucos abandonaram a mania de assistir a todas as etapas. 
Até o abandono se deu fortemente por emoção. Duvido que não tenha sido por qualquer outro motivo se não estes: o fulano saiu da categoria, não gostei daquela situação assim e assado e perdeu o interesse, ou simplesmente pois "antigamente era melhor".
Mais da metade de minha vida, eu assisti F1. Numa família que deixou de lado as corridas desde a morte do Senna. Ainda que não são verdadeiramente viúvas, só restou eu assitindo as corridas com o mesmo afinco e quando não posso, gravando. Mas, desde 2015, não anoto mais o que acontece nas corridas em cadernos. Faço isso desde meados de 2006, e depois de quase 9 anos, 9 cadernos, eu desisti. Ano passado eu nem fiz a tabela de pontuações e poles. Parei no meio do caminho, joguei a planilha do Excel fora e esse ano, nem pensei em anotar em agenda as datas dos GPs. Minha frustração: a facilidade com a qual tudo sempre dá certo para Lewis Hamilton e a minha inapropriedade em ver ele como piloto merecedor de tantas marcas.
Está certo que ano passado, ele não teve tanta sorte, mas garanto-lhes, não foi por falta de tentativas externas. Tanto é que, nada me tira da cabeça que Rosberg aposentou pois ele soube que jamais conseguiria roubar a sorte do companheiro em alguns momentos e aproveitar tantas chances como foi na temporada anterior. 

Não vou reproduzir a corrida do Azerbaidjão. Vocês já tiveram 24 horas para verificarem como ela foi, ao vivo ou por videotape. Dado os momentos da corrida faço aqui o mea culpa: fui logo arrebatada por emoção já na largada. Vociferei um "fdp" ao Bottas só porque ele dificultou a corrida de Räikkönen e agi como fan girl. Sorte a minha que foi entre quatro paredes e me arrependo menos, pois, foi apenas um palavrão e uma suspirada de descontentamento, seguido de um alívio quando percebi que ele tinha o pneu furado. Coisa de corrida.

Logo, a corrida entrou em modo morno, mas a gente se esquece. As quebras e carros pelo caminho demorou a ligar na comissão, que era necessário um Safety Car. O descontrole estava instaurado na Era Liberty: parecia meio bagunçada a situação. Não é isso que a gente espera. 
A cena da qual todos atribuem como emocionante, pois envolve os dois, líder e vice-líder do campeonato não foi nada mais do que uma barbeiragem das mais toscas. E eu não falo do Vettel. 

Se teve freada ou desaceleração não importa. O que importa é que, a curva daquela forma que Hamilton fez indicou à Vettel que ele estava preparando o alinhamento. O que o cara fez? Praticamente parou. Me digam se eu nunca disse que ele fez isso alguma vez? Que ele para, anda lento e que eu não entendo como é que ninguém "enfia" o carro nele? Sempre digo isso, que o "break test" dele é desastroso.
Mas não sei dizer se isso é emoção. Fato é que ele segura mal a fila com relargada. E é apenas algo que vejo. Schumacher (Ah, Schumi, que esteja bem, apesar das condições) fazia isso muito bem, de uma forma irritante, mas muito bem. E advinha quem é que faz relargadas igualzinho?
Mas infelizmente, Vettel não tem tudo de Schumacher. Schumacher ali, teria, provavelmente, se mantido frio o suficiente para fazer com que Hamilton fizesse algo errado. Ou, teria só esperado, para avançar na ultrapassagem.
Algumas pessoas poderiam dizer que a situação pareceu uma imagem de Senna x Prost. E a gente sabe quem é considerado o grande vilão dessa disputa. 

E agora peço licença para mea culpa de novo: lá foi eu na emoção em ficar possessa e xingar nomes feios ao Hamilton. E dessa vez eu não retirei o que disse, nem me arrependo, pois em seguida, xinguei o Vettel, pela jogadinha marota de aviso, porém frouxa. Eu teria ralado o inglês no guard rail de fora a fora. Lá atrás, as Force India fazendo ultrapassagens e soltando peças para tudo quanto é lado. E os rosas estão de perseguição com Kimi: segunda corrida seguida que os dois carros da Force India "sanduícham" o cara e obviamente, fazem uma ultrapassagem que deixa muito fã (do finlandês) chateado, afinal é meio humilhante para nós. 
Para piorar tudo, naquela relargada horrorosa, Massa estava com chances de pódio e a transmissão "ovulando" por conta desse feito. Se nessas horas a gente se mantém apático é porque somos uma barata e não sabemos. Foi impossível não sair soltando praga até para quem não tinha nada com isso. 
Fiquei com mais raiva ainda, dada a bandeira vermelha para catar cacos de asas pela pista deixadas pelos incidentes, que Vettel tenha saído do carro de cara amarrada ao invés de vir girando o capacete até atingir o queixo do Hamilton de baixo para cima, fazendo "a cena".

Beiraríamos a barbárie, confesso. 
Mas optei por tentar decantar os sentimentos mesmo estando a favor de uma revolta mais incisiva de Vettel. Depois da relargada, revoltei que o alemão não o ultrapassasse. A punição seria iminente e ele, deveria tentar tomar espaço para que não houvesse prejuízos grandes. 
No crivo geral, ambos estão errados: Hamilton pela "provocação" e Vettel pela reação. Quem reage é quem toma mais pedrada da sociedade. 
Mas a Liberty quer algo diferente daquela "antiga" F1 certo? Deveria ter punido os dois. O que foi feito foi diferente daquela F1 que a gente se irritou tantas vezes? Hum. Vejamos.

Da mesma forma que Donald Trump antes do resultados das eleições discursava que pediria recontagem de votos e investigação no dia seguinte, pois ele desconfiava que perderia, Hamilton tem dito, com o mínimo de dificuldade a cada etapa, que pode fazer como Rosberg: chegar ao fim do ano e se aposentar. 
Ele pode estar pensando como Trump, se resguardando de uma aposentadoria para esquecerem que não foi capaz de ser tetra, ou está também pensando que o tetra está custando um pouco mais um penta - tetra, ele jogaria a responsabilidade nas costas de outro, no caso Vettel, e passaria o resto da vida se vangloriando de títulos totalmente descartáveis e nada merecedores.

Além de Bottas - que agora é inimigo público de muitos: fãs da Williams e fãs do Kimi, Vettel calçou os sapatos espinhentos que já foi de Alonso e de Rosberg nos últimos anos. Alonso calçou esses sapatinhos horríveis depois do "Faster than you", e se tornou em grande escala o cara  mais prepotente da F1 nos últimos 10 anos, sem nunca ter tido um só indicativo de sujeira extremada de sua parte, a não ser, dados de falas e ações motivadas por um cara muito competitivo e muito, mas muito talentoso. A "inveja" cantou alto e os outros, se condoeram com o lado "fraco" da corda. Mas Alonso permaneceu certo por muito tempo ao permanecer calado, toda vez que alguém fizesse graves acusações sobre ele. 
Rosberg também foi vilão em 2015, ao ser constantemente pressionado ao erro, apelar contra a proteção do companheiro e fazer algumas coisas em pista que o elevou à status de desportivo. Ridiculamente, escolheu mais tarde, ficar mais calado que ativo. A sorte sorriu depois, assim que terminou 2016 com resultado mais que aprazível. 
De nenhum dos dois vocês poderão dizer que já fizeram ultrapassagens perigosas, causaram acidentes bobos por barbeiragem, se atrapalharam com o seu instrumento de trabalho,  foram cínicos com coisa séria ou disseram coisas das quais estavam completamente errados, divulgaram telemetria em rede social ou mesmo ainda, quebraram quarto de hotel. Já?
Hamilton já fez algumas dessas coisas: já bateu em colega parado no pit lane com o sinal vermelho (Canadá 2008, para quem não lembra), já mentiu para comissários, mentiu na investigação sobre a McLaren em 2007 dizendo que não sabia de nada, apertou botões errados no ano de estréia (e perdeu campeonato), divulgou dados internos da equipe, quebrou confiança da McLaren - que o fez piloto - só porque queria ter "meus troféus em casa", e foi cínico com relação à sua cor. Dizem também que por "pití" já detonou quartos de hotel. Fora as diversas vezes que burlou regulamento: defendeu posição mudando de traçado mais de três vezes, ganhou mais de 5 posições cortando por fora da pista e não devolveu e a direção de prova fez vista grossa. Grossíssima.

E continua fazendo. Assim que lá pelas tantas da corrida, a parte do carro que sustenta ombros e pescoço começou a subir e o desespero bateu. Hamilton não sabe pilotar sem o rádio coach. Rádio esse que foi, talvez, o cautalisador primordial da palhaçada do "safety car tá muito lento!"Ele sempre reclama da lentidão do carro de segurança, mas só o Vettel que quando o faz, é chamado de ranzinza. As tais perguntas de quanto deve-se manter de distância do carro de segurança vieram e eu me perguntei: Hamilton está à 10 anos na categoria, e não sabe ainda coisas simples como essa...
A sua ida aos boxes para consertar a coisa que, uma, poderia sair e atingir outro carro e duas, se não atingisse, era perigoso que ele dirigisse sem a proteção, foi exatamente no minuto em que deu-se a decisão de "stop and go" para Vettel. Uma punição mais do que tosca do que ação: a clara menção de que não pode ensinar com uma certa truculência, o erro do colega desatento. Como num jardim de infância a punição é o tapa não mãozinha com os ditos de "não pode encostar no coleguinha"! Mesmo que o coleguinha seja um excomungado provocador. 
No fim, Vettel tirou diferença e Hamilton voltou à pista colado atrás dele, conseguindo terminar e segurar a posição 4 enquanto o inglês, amargou o quinto.

O que vejo é um mote gigante contra Vettel nas redes sociais. Num dado momento, Twitter aflorou com muita opinião do tipo hipócrita. O microblog é para isso, para dizer o que você quer. Você lê e concorda, se quiser também. Da mesma forma que há direito de expor, há direito de abster. 
Vettel tomou estigma de mimado e "mimimizento" para fãs de Alonso, de Kimi, e até mesmo de Hamilton. Defensores de Rosberg, Bottas, Massa, e afins, falam o mesmo. Eddie Irvine veio à público esse ano, só para declarar a proposição sobre a postura sempre arrogante de Vettel, que só é sorridente quando vence. 
Fãs da categoria, em sua maioria, detestam suas queixas, detonavam ele nos anos anteriores quando reclamava da falta de bandeiras azuis e se esquecem, completamente que Kimi, quando voltou à F1 em 2012, na Lotus, era rápido e reclamava todo o tempo dos retardatários. Mas aí, era engraçado. 

As emoções afloram: Espanhóis, ingleses e alguns simpatizantes dos finlandeses, não gostam do Vettel. O motivo é o mesmo que o meu (em relação ao Hamilton): acham que Vettel é superestimado. 
Acho que pela ótica dos espanhóis e simpatizantes (os amenos e não os xiitas) está certo: Fernando Alonso é um piloto completo que merecia mais do que ser campeão apenas duas vezes. Mas não vejo Vettel como um piloto mediano, de forma alguma. Acho ele excelente inclusive, e certamente está no meu top 3 de piloto da atualidade.  Ele foi o cara pela qual me simpatizei depois que Kimi esteve fora da categoria correndo no WRC em 2010 e 2011. E neste ponto não há outra medida se não o juízo de gosto. Gosto do Vettel e eu posso explicar, porém não convencerei, pois a demonstração de tal juízo é particular, sempre. Considero os seus 3 primeiros títulos muito importantes. Talvez o tetra tenha sido mais do mesmo, mas ainda assim, concordo com a validade e a marca alcançada.
Mas nunca, nem sobre decreto papal,  nem mesmo sob pena de morte ou tortura, vou dizer que Hamilton tem status de ser tri como é. Nem mesmo sabendo que muitos finlandeses não dão a mínima para isso, aceito um campeonato do Hamilton no máximo, mesmo que ele se iguale ao Kimi neste ponto. Só aceito 2008 por simplesmente olhar diretamente para o segundo colocado daquele ano e dizer que sim, o inglês é melhor que este. Só por isso. 

Existem inúmeras justificativas para o feito de um e de outro. Detestar Vettel pelas reclamações contantes me parece um tanto infantil. Declarar inimigo pois ele já foi provocador, também o é, porém é inevitável que tenhamos um padrão de empatia que caiba a todos Mais ainda que sejam justos e não passionais.
Vettel já fez muita coisa ruim também? Sim. Pergunte à Mark Webber. Em contrapartida, ele nunca acusou ou desmereceu Webber de não saber fazer o seu trabalho. Já falou muita coisa estranha e duvidosa? Também. Não sei se quebrou quarto de hotel, mas posso dizer que se fez provocações e que fazem parte do jogo, quer concordemos ou não. 

No fim de tudo, a contabilidade foi saldo positivo para nenhum destes em questão: Ricciardo que fez uma boa corrida, com uma bela de uma ultrapassagem na conta, chegou em primeiro, seguido de Bottas, que aproveitou da inocência de Stroll no fim da linha, e o ultrapassou. Stroll, para horror dos massistas, subiu ao pódio, mesmo sendo considerado um piloto ruim e pagante. Ha-ha!

Se na pista a gente presenciou que a ação e a reação são igualmente refutáveis, mas que, apesar da reação ter sido vista como a pior das situações, ela é dada pela lei da física e também pela competição. Vettel tinha o direito do "f#d@-se", pois muito provavelmente, sem nenhuma reação, tudo ficaria como ficou e não poderia contar com o problema no carro de Hamilton mais tarde para poder ter a vantagem sobre o rival. O "break test" não seria encarado como um problema pelos comissários e o clima no pódio seria odioso. 
No cercadinho de entrevistas a divisão se faz clara, das personalidades: 
Hamilton disse que se Vettel queria  provar que era homem, que o fizesse fora do carro.
Vettel disse que não viu como proposital a ação do rival, mas acrescentou: "F1 é lugar de adultos".

Os detratores dirão que Vettel é um hipócrita, pois sua reação foi infantil. Os que gostam de briga já anunciam que Hamilton "chamou o alemão para o pau". 
E eu digo que agora, mais que nunca Vettel tem de fazer das tripas coração para ganhar esse penta. Se não gostam e acham injusto, isso não é um problema que ele tem de lidar. Assim como Hamilton também tem que provar que sabe fazer mais do que ficar pedindo ajuda via rádio, e se não o fizer, ele não está dando a mínima por eu achar ele um piloto "overrated".

Duas coisas ficam claras com toda essa coisa: a maioria das pessoas que não tem um piloto favorito, sabem ponderar melhor para o quê é realmente necessário que uma temporada seja dada como "empolgante": competição, mas dentro de um um prisma justo. O que foi feito, lá, não foi só uma barbeiragem de ambos, mas no simbólico, uma perda de respeito. E o tratamento da categoria com a situação não foi nem perto, do justo.
Hamilton nunca demonstrou nenhum traço de respeito por seus rivais. Bastou um pisão no calo do pé, e ele declarou insatisfação ou fomentou algum comentário de discórdia. Para mim, Vettel aparentou ao menos, disfarçar desgostos. E se não tinha respeito por Hamilton, ficou escancarado, depois de ontem. 
A disputa deve consider o melhor dos lados. O pós incidente, as declarações mostram o melhor lado da situação.
Ainda assim, para o que concerne a disputa a lei é básica: o respeito é um bumerangue. 

Abraços afáveis!

PS: Kimi voltou àquela época em que tudo acontece com ele. E Alonso pontuou! Vivas!

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